terça-feira, 26 de abril de 2011

Estação de Trem

Assim como todos os dias sai do trabalho e me dirigia a universidade, um dia chato, monótono, nada de novo havia acontecido, exceto oque vou lhes contar agora.
Estava na estação a espera do trem e para passar o tempo peguei na bolsa um livro que estava lendo, enquanto lia percebi que se sentou ao meu lado uma mulher de aparência abatida, um homem com expressão pesada marcada pelo sofrimento e uma criancinha, muito meiga por sinal.
O individuo ouvia um som muito alto e repetia a letra da musica cantada, creio eu que no intuito de chamar atenção. Por um instante parou de cantar e se fez um total silencio no ar, que se quebrou espontaneamente quando o bruto começou a falar palavras de baixo calão e xingamentos destinados a sua esposa, e tudo isso gratuitamente.
Suas palavras incomodavam a todos, a esposa do individuo, coitada! Não sabia onde se esconder de tanta vergonha, mas oque mais me chamou atenção foi o individuo ter acendido um cigarro e exclamado os seguintes dizeres:
- È filha, o papai tem que fumar muito agora, enquanto pode, na cadeia o cigarro é difícil e o papai sofre muito.
Inacreditavelmente ele dizia essas palavras a uma criança que aparentava ter os seus cinco ou seis anos de idade. E o único momento que suavizava sua voz, era quando se dirigia a menina.
A mulher não dizia nada, se fazia quieta e submissa ao individuo. Quando o trem já vinha se aproximando ela foi se levantando e dizendo: vamos o trem está vindo!
Apenas estas palavras bastaram para que o asno esbravejasse suas tórridas palavras.
- quieta! Estou vendo que o trem esta vindo, não sou cego!
A mulher baixou a cabeça e respirou fundo, como se engolisse mais uma pedra.
Fiquei paralisado mediante aquela imagem, por fim o trem se aproximou e embarcamos.
Ainda no trem eu os fitava discretamente, o individuo bruto e arrogante agora brincava com sua filha com ar de outra criança. E foi assim durante todo o percurso; até que desci na estação do meu destino e me dirigi à universidade pensando nas várias faces do ser humano e sobre oque de fato somos e representamos enquanto seres...

*** CRÔNICA CONCORRENTE NO CONCURSO ESCRIBA DE CRÔNICA - PIRACICABA-SP***

Marcelo Alves dos Santos

quinta-feira, 14 de abril de 2011

Intensidade II

Afinal, qual a veracidade dessa tão sonhada e idealizada intensidade? Que força maior é essa que faz com que nós sempre estejamos em busca do inalcançável, do absoluto? Qual a causa findadora para este vazio na alma humana? Este espaço oco que parece nunca ser preenchido, assim como a fome que se faz insaciável mesmo com todo o alimento do mundo. Intensidade tão solúvel e ludibrie, tão pesada e leve, tão concreta e fantasiosa. Arte essa que não compete aos “ignorantes”, a pessoas fúteis e odiosas. Essa arte sublime que faz com que sempre busquemos o novo, o belo. Neste total estado de lirismo, indago sobre todas as causas do mundo, dos sabores e dissabores, do vazio, das dores, dos amores, da vida, da morte, sobre o céu e o inferno. Ou simplesmente sobre o nada! Numa arte que se faz fraca e inatingível na sua concretização. Marcelo Alves 14/04/2011

sábado, 2 de abril de 2011

Intensidade


Na realização dos desejos mais atrelados à carne, estão nossas maiores fraquezas.

Uma manifestação pura e tão simples, que se faz capaz de ser trágica na sua totalidade.

A intensidade é o ponto inicial da busca incessante do homem pela concretização dos seus ideais. Ser intenso... Ao extremo, a ponto de ver suas mãos rasgando em sentimentos inexplicáveis, a ponto de sentir seu próprio “eu”, sua essência, seu corpo.

Nessa cadeia circular somos guiados pelos cinco sentidos que se fazem extremos.

Cheirar a pele a ponto de conseguir extrair o seu perfume mais intrínseco.

Tocar como se fosse capaz de apalpar todos os órgãos dessa caixa humana.

Ver além das aparências, do superficial, gozar na expectativa mais sublime da alma.

Sentir na boca o sabor mais amargo e o mais doce momentaneamente.

Ouvir, não como quem ouve apenas palavras, interiorizá-las e fazê-las únicas.

Junto ao extremo, ao intenso, ao mais profundo sentimento, cabe a morte solucionadora de muitos males.

Morrer... Morrer... Morrer...

Beijar até morrer,

Transar até morrer,

Gozar até morrer,

Amar até morrer,

Odiar até morrer,

Ser livre até morrer...

Ser vivo! Enquanto há vida...
Marcelo Alves 02/04/11