Transilvânia, Europa
ocidental - Cluj-napoca. 1985; aqui começa o fim do túnel e desencadeia os mais
maléficos sentimentos existentes apenas na raça humana.
21h30min da
noite estou só em minha mansão, atrofiado sem movimentos numa cama, pensamentos
sujos e perversos passam por minha mente a todo instante, no meu sangue corre
ódio e drogas que me injetei na busca de alívio; procurando a perfeição mais
absoluta do êxtase mental.
Loucura? Talvez! mas vou lhes contar agora um pouco sobre a minha vida, quem sabe assim vocês me
entendam ou afirmam-se de vez da minha loucura.
Hoje moro só em
uma mansão que herdei de um tio, sendo o único membro vivo da família.
Tive uma
infância nada fácil, porém, sei que isso não justifica muitas das minhas
atitudes.
Recordo-me
claramente como era quando menino; com uma alma pura e ingênua me camuflava no
escuro, na depressão. Vindo de uma família extremamente religiosa, cresci com
ensinamentos rígidos e até mesmo hostis.
Aos nove anos de
idade fui internado num colégio católico, confinado em um quarto escuro
e fétido, apenas com uma bíblia sagrada, um crucifixo e a dor do abandono.
Sim! Eu disse
abandono, pois meus pais sempre me viram de maneira diferente como se eu não
fosse fruto gerado por eles. Como se
adivinhassem que mais tarde eu iria me tornar a ovelha negra da família.
Sempre fui
rejeitado por todos, cresci com a solidão minha única companheira de tantos
anos, um garoto frágil de aparência delicada, pele clara e lábios rosados. O
alvo perfeito para as zombarias de uma sociedade sem valores éticos e morais,
onde o normal é ser igual a todos.
Certo dia preso
em meu quarto fui apanhado de surpresa pelo Padre Manut, beato rígido,responsável pelo funcionamento do colégio.
Com uma expressão
insana em seu olhar pude notar toda a sombra de perversidade que estava envolta
sobre ele, mas com um ar natural ele disse:
– Richie preciso
lhe falar, você sabe que aqui neste colégio todos os garotos comentam certas
coisas a seu respeito, quero que me responda!
– Você tem algum
vicio de pederastia?
Vi a fúria tomar
conta de mim, como esse padre idiota teve a coragem de me perguntar isso, mas
com bastante naturalidade e frieza respondi:
–Não, Padre
Manut!
Antes que
terminasse de falar, Padre manut partiu pra cima de mim, com tanta sede de
prazer e orgia que mal pude acreditar; ele se esfregava em mim, me tocava
intimamente, tentava me beijar. Foi quando que por um instante consegui
afastá-lo de mim com um golpe que lhe dei em sua testa, imediatamente começou a
sangrar.
O sangue
vermelho corria lentamente sobre sua face e foi com um olhar diabólico que
padre manut me disse:
-Seu infeliz!
Vais morrer!
Aquelas palavras invadiram minhas entranhas
com tamanha força, que me atordoou por horas e hoje sempre que me lembro sinto
os mesmos calafrios que senti naquela dia, e sinto sua maldição pesar sobre
meus ombros tão cansados.
Naquele mesmo
dia padre Manut ligou para os meus pais para que eles fossem me buscar,
pois havia sido expulso do colégio, e ainda prosseguiu dizendo que eu havia me oferecido
sexualmente a ele, e que a igreja não aceitava homens pecaminosos, com desvio
homossexual.
Tudo aquilo era
inacreditável, mas nada me adiantaria contestar, afinal, quem acreditaria em
mim! Meus pais? Não!
Nem meus
próprios pais acreditariam em mim.
Voltei então
para a casa dos meus pais, os dias que se passavam eram frios e tensos, a
convivência tornara-se insuportável, fui me retraindo e me depreciando cada vez
mais. Foi então que passei a sair de casa todas as noites, vagava errante pelas
velhas ruas da cidade que dormia. E foi numa dessas noites que conheci a
pessoa que faria com que minha vida mudasse para sempre. Seu nome era Any, tão
misteriosa e macabra, encoberta por vestes pretas, maquiagem fortemente
carregada que a empalidecia por ser muito branca.
Sua historia de
vida assemelhava-se a minha, no entanto, ao contrário de mim nunca buscara
refúgio em nenhum tipo de droga; Any pobre coitada. Havia se jogado ao léu, as
drogas e as orgias das noites assombrosas. Apesar disse passei a ser seu amigo,
pois sentia algo de puro em seu coração.
Os meses que se
passavam fazia somente com que nossa amizade evoluísse cada vez mais, quando
percebi já estava totalmente envolvido por sua energia, sua maneira de viver,
as vestes, as maquiagens, tudo na tentativa de fugir da realidade, como uma
válvula de escape para me desprender de tudo, do mundo e de todos.
O lugar onde
passávamos a maior pare das noites era no cemitério central, lá nós nos
entorpecíamos de drogas e bebidas alcoólicas. Em uma dessas noites, já
anestesiados, nos lançamos sem pudor um ao outro, unificando nossos corpos, que
loucura!
Aquela sensação
era tão louca, era um misto de prazer, luxuria poder, excitação e diversos
sentimentos. Aquele momento parecia nunca ter fim, transamos brutalmente em um
túmulo semiaberto; trocávamos mordidas sanguinárias e repletas de amor, carícias
ardentes e um pouco de ódio também pela vida. Era irônico, dividíamos essa dor
até mesmo no sexo.
Nosso romance
durou cerca de dez anos, os melhores anos de minha vida eu diria, afinal, foi
ao lado de Any que senti o poder do ódio e do amor juntos. Com o passar do
tempo, passei a mudar as minhas concepções sobre a vida arrumei um bom
trabalho, parei com o uso de drogas e bebidas. Foi a época que me casei com
Any.
Meus pais que
Deus os tenha, pois não guardo magoas faleceram em um trágico acidente de carro
voltando de uma festa que houvera na casa da tia Meet, tudo por culpa de uma
simples discussão de casal, perderam suas vidas. Mas essa já é uma fase que me
dói comentar, então mudemos de assunto.
Any infelizmente
não conseguiu se livrar de toda aquela influência maligna e continuou a usar
drogas, e mesmo juntos passei várias noites solitário em casa, enquanto Any
passava suas noites em cemitérios. Foi assim que contraiu um vírus ainda pouco
conhecido, envolvendo-se com garotos de programa, mesmo com o tratamento antirretroviral,
Any não resistiu à doença e faleceu aos 29 anos.
Vocês devem
estar se perguntando de mim como fiquei, pois vou lhes responder.
Com a morte de
Any não consegui continuar morando na casa que vivíamos, pois tudo me fazia lembrar dela, seu espírito parecia ainda estar ali, ao meu lado, dizendo que me
amava.
Nesse mesmo
período fui comunicado da morte de meu tio Dr. Lyon, como único herdeiro Vivo,
tomei posse de todos os seus bens, e me mudei então para o velho castelo dele, e
foi lá já passado dois anos da morte de Any, descobri que também havia sido contaminado
pelo vírus, quando soube cai em uma profunda depressão, pois sabia que restava
pouco tempo de vida.
Contudo, lutei
ao máximo contra a dor e contra a doença, que já mostrava seus efeitos, estava
pálido, magro e abatido, devido ao tratamento intensivo.
A sorte havia
sido lançada, estava no fundo do poço, não tinha mais nada a perder.
Então voltei a
usar drogas e a encontrar os velhos amigos que Any havia me apresentado, passei
a fazer tudo novamente, meu estado físico só piorava decidi então parar com o
tratamento. Minha aparência era mórbida e cadavérica.
Numa noite fria,
nevava levemente, resolvi então fazer um passeio pela cidade escura habitada
somente pelos marginais e mendigos. Essa é a realidade da grande Europa em suas
noites assombrosas. E por uma fração de segundos senti meus órgãos paralisarem
dentro de mim, nessa hora senti... meu tempo havia esgotado! E foi com um
ataque fulminante, que faleci aos 32 anos, apesar de jovem vivi tantas
desgraças quando vivo, que até hoje contesto a existência de Deus.
Será que de fato
ele existe?
Será que ainda
irei me encontrar com ele?
Não sei, mas
hoje vim para contar a minha historia através da médium Rutie, que me recebeu
em sua casa e aceitou publicar esta psicografia.
Hoje estou
vivendo em uma pequena colônia de recuperação espiritual, pois meu corpo físico
ainda sofre com todos os vícios e pecados que cometi.
Estou aqui em busca
de evolução, para ter a oportunidade de retornar a terra e consertar os meus
erros.
Já havia me
esquecido do Padre Manut. seu fim? pobre coitado! Foi trágico!
Como disse eu
havia saído do colégio, mas ele continuou a molestar e abusar sexualmente as
crianças, até o dia em que foi pego de surpresa por um funcionário da faxina,
que o denunciou. O pai do garoto que fora assediado pelo Padre Manut, ficou tão
revoltado que o matou asfixiado e fugiu.
Meu conselheiro
disse que o Padre está hoje em uma espécie de dimensão inferior e sofre
arduamente por tudo que fez.
Essa é minha
historia de vida, obrigado a todos!
Espero que
reflitam sobre suas vidas e não cometam os mesmos erros que cometi.
Espero minha nova
chance ansiosamente, e a única coisa que sei é que me reencontrarei com Any
novamente, ela participa também de tratamentos espirituais; seu estado é mais
delicado, mas sabemos que ela poderá voltar a terra também.
ADEUS E
OBRIGADO!
POR MAVYN: 10/08/2008