quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

Chuva de Verão



Depois de tantas primaveras me peguei novamente olhando do alto da sacada a chuva cair, mas desta vez notei que do outro lado da rua um menino, ainda de chupeta, também a observava, foi então que me dei conta que eu já não era mais um menino; aquele menino que mesmo assustado com o barulho dos trovões, sentia a magia da chuva e se deliciava com cada chuvisco que lhe escorria sobre a face; aspirava o cheiro da terra fresca e molhada, o doce perfume das plantas e flores que exalam no ar como para purificar o universo. Elevava-me a alma ao céu, ao extremo, ao infinito numa verdadeira fusão entre mim e os elementos da natureza, a compreensão de que Deus estava em todas as coisas, em todos os lugares, e em cada gota de chuva.
Fitei o garoto por alguns minutos e pude observar que ele sentia as mesmas sensações que eu senti quando menino, por instantes me comovi, pois percebi o quanto o tempo corrompe nossa alma e acaba sempre nos levando a sensibilidade, a capacidade de perceber que a grandeza das coisas está nos detalhes mais singelos.
Quando criança acreditava que cada gota de chuva carregava consigo um segredo, e que estes segredos eram as chaves para a felicidade plena, neles a capacidade de despertar no homem à vontade de viver, sim, pois água é vida! Este bem mais natural.
Alguns minutos se passaram e o menino do outro lado da rua ainda estava estático a observar a chuva, como num relance recobrei meus sentidos, e não vendo mais o garoto aludi que todo o tempo aquele menino era eu, as memórias então se fizeram mais fortes e assim lembrei que tudo o que presenciara até então fazia parte da minha vida.  A chuva de verão se foi e surgiu no céu um belo arco-íris e presumo que assim como eu o fiz um dia milhares de crianças em todo o mundo estarão a sentir e indagar sobre segredo da chuva...

                                                                                                  Marcelo Alves

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