terça-feira, 16 de abril de 2013

Contrato com a morte



Esta manhã meio fatigado botei-me a indagar sobre as intempéries da vida e logo me veio em mente que bom mesmo seria ter um contrato sólido com a morte, neste contrato já no instante de nosso nascimento programaríamos uma data, uma hora e um local adequado para nossa morte e que fosse imprescindível uma cláusula onde pudéssemos escolher a maneira como ela viesse. Claro imaginem vocês eu com toda minha alvura e beleza atenuante sendo atropelado por um trator! Seria minimamente trágico, ou ainda que meu corpinho sarado engolisse litros e mais litros de aguá até semelhar-se á um peixe-boi? Não! Não! seria deselegante. Em último caso mesmo seria meu corpo em chamas... Ui! É como se só de falar já pudesse sentir a extrema dor do fogo rasgando minha pele. Assim também não dá! Pensando bem acho que um desastre de avião seria o ponto x. Imaginem vocês eu irreconhecível prostrado em meio à mata atlântica? Deixa pra lá, essa morte também não seria muito agradável, aliás, nada que desfigure meu belo rostinho, isso inclui acidente de moto, carro, lancha, saltar de paraquedas e ele não abrir, saltar de asa delta e as asas romperem e eu despencar de metros de altura. Bom mesmo seria dormir e simplesmente morrer! Mas, esperai! morrer sem ao menos ver minha linda imagem pela última vez? Por mais que não doa não quero morrer desse jeito...  Bom está um pouco difícil encontrar a maneira como quero morrer então comecemos pelo dia, mês, ano e horário de meu óbito. Penso no dia 13 gosto muito desse número, o Mês pode ser o próprio do meu nascimento: Janeiro, o ano é um fator importantíssimo e determinante, afinal escolhendo o ano posso escolher quantos anos viverei! Isso me agrada até certo ponto, não quero morrer velho demais com toda minha pele flácida, recaída. Isso faria com que eu perdesse meu semblante harmonioso. Mas bem como se trata de um contrato em que ambas as partes devem estar satisfeitas deixarei que a morte escolha a idade, entretanto não abro mão da maneira como ela virá. È mais difícil do que eu pensava escolher a maneira como se quer morrer, então voltemos a falar do horário; quero que seja de madrugada, gosto desse ar sombrio que só a noite possui que seja preferencialmente às 02h45min PM. Então seria mais ou menos assim:
– Eu João Francisco de Albuquerque, nascido em 20 de janeiro de 1899 às 12h00min no estado de São Paulo, Filho de Margarida Albuquerque e Alberto Francisco de Albuquerque, em total acordo com a morte deixo assinado, conforme todas as clausulas abaixo, a escolha do dia do meu óbito que será em 13 de janeiro do ano escolhido pela morte às 02h45min da madrugada.

  Como em todo contrato havia pequenas letras no rodapé do contrato que diziam: sou a morte e virei quando menos esperares e da maneira como eu bem desejar, este contrato serve apenas para fins de conforto do próprio ego. Não aceito reclamações futuras jaz que sua alma poderá estar em qualquer plano, e meu serviço não inclui conexões de alta escala, este serviço poderá ser solicitado em outros departamentos após sua morte. È um prazer tê-lo comigo...

E sem ler João Francisco assinou o contrato com a morte mal sabendo que esta preparara para ele o fim mais trágico possível: João faleceu aos 85 anos de idade com a pele flácida e recaída, no dia 15 dezembro de 1984 às 16:00 atravessando uma rua do centro de São Paulo, sua face ficou totalmente desfigurada, uma de suas pernas foi encontrada do outro lado da calçada, estava usando um suéter roxo e uma camiseta com os seguintes dizeres: Tenho a morte sob controle.  João foi enterrado como indigente no cemitério central e seu corpo foi devorado por insetos , sua alma só Deus sabe, pois como a própria morte disse, isso pertence á outro departamento.                             

Marcelo Alves           

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