sábado, 24 de julho de 2010

Andarilho das Trevas



Transilvânia, Europa ocidental - Cluj-napoca. 1985; aqui começa o fim do túnel e  desencadeia os mais maléficos sentimentos existentes apenas na raça humana.
21h30min da noite estou só em minha mansão, atrofiado sem movimentos numa cama, pensamentos sujos e perversos passam por minha mente a todo instante, no meu sangue corre ódio e drogas que me injetei na busca de alívio; procurando a perfeição mais absoluta do êxtase mental.
Loucura? Talvez! mas vou lhes contar agora um pouco sobre a minha vida, quem sabe assim vocês me entendam ou afirmam-se de vez da minha loucura.
Hoje moro só em uma mansão que herdei de um tio, sendo o único membro vivo da família.
Tive uma infância nada fácil, porém, sei que isso não justifica muitas das minhas atitudes.
Recordo-me claramente como era quando menino; com uma alma pura e ingênua me camuflava no escuro, na depressão. Vindo de uma família extremamente religiosa, cresci com ensinamentos rígidos e até mesmo hostis.
Aos nove anos de idade fui internado num colégio católico, confinado em um quarto escuro e fétido, apenas com uma bíblia sagrada, um crucifixo e a dor do abandono.
Sim! Eu disse abandono, pois meus pais sempre me viram de maneira diferente como se eu não fosse fruto gerado por eles.  Como se adivinhassem que mais tarde eu iria me tornar a ovelha negra da família.
Sempre fui rejeitado por todos, cresci com a solidão minha única companheira de tantos anos, um garoto frágil de aparência delicada, pele clara e lábios rosados. O alvo perfeito para as zombarias de uma sociedade sem valores éticos e morais, onde o normal é ser igual a todos.
Certo dia preso em meu quarto fui apanhado de surpresa pelo Padre Manut, beato rígido,responsável pelo funcionamento do colégio.
Com uma expressão insana em seu olhar pude notar toda a sombra de perversidade que estava envolta sobre ele, mas com um ar natural ele disse:
– Richie preciso lhe falar, você sabe que aqui neste colégio todos os garotos comentam certas coisas a seu respeito, quero que me responda!
– Você tem algum vicio de pederastia?
Vi a fúria tomar conta de mim, como esse padre idiota teve a coragem de me perguntar isso, mas com bastante naturalidade e frieza respondi:
–Não, Padre Manut!
Antes que terminasse de falar, Padre manut partiu pra cima de mim, com tanta sede de prazer e orgia que mal pude acreditar; ele se esfregava em mim, me tocava intimamente, tentava me beijar. Foi quando que por um instante consegui afastá-lo de mim com um golpe que lhe dei em sua testa, imediatamente começou a sangrar.
O sangue vermelho corria lentamente sobre sua face e foi com um olhar diabólico que padre manut me disse:
-Seu infeliz! Vais morrer!
 Aquelas palavras invadiram minhas entranhas com tamanha força, que me atordoou por horas e hoje sempre que me lembro sinto os mesmos calafrios que senti naquela dia, e sinto sua maldição pesar sobre meus ombros tão cansados.
Naquele mesmo dia padre Manut ligou para os meus pais para que eles fossem me buscar, pois havia sido expulso do colégio, e ainda prosseguiu dizendo que eu havia me oferecido sexualmente a ele, e que a igreja não aceitava homens pecaminosos, com desvio homossexual.
Tudo aquilo era inacreditável, mas nada me adiantaria contestar, afinal, quem acreditaria em mim! Meus pais? Não!
Nem meus próprios pais acreditariam em mim.
Voltei então para a casa dos meus pais, os dias que se passavam eram frios e tensos, a convivência tornara-se insuportável, fui me retraindo e me depreciando cada vez mais. Foi então que passei a sair de casa todas as noites, vagava errante pelas velhas ruas da cidade que dormia. E foi numa dessas noites que conheci a pessoa que faria com que minha vida mudasse para sempre. Seu nome era Any, tão misteriosa e macabra, encoberta por vestes pretas, maquiagem fortemente carregada que a empalidecia por ser muito branca.
Sua historia de vida assemelhava-se a minha, no entanto, ao contrário de mim  nunca buscara refúgio em nenhum tipo de droga; Any pobre coitada. Havia se jogado ao léu, as drogas e as orgias das noites assombrosas. Apesar disse passei a ser seu amigo, pois sentia algo de puro em seu coração.
Os meses que se passavam fazia somente com que nossa amizade evoluísse cada vez mais, quando percebi já estava totalmente envolvido por sua energia, sua maneira de viver, as vestes, as maquiagens, tudo na tentativa de fugir da realidade, como uma válvula de escape para me desprender de tudo, do mundo e de todos.

O lugar onde passávamos a maior pare das noites era no cemitério central, lá nós nos entorpecíamos de drogas e bebidas alcoólicas. Em uma dessas noites, já anestesiados, nos lançamos sem pudor um ao outro, unificando nossos corpos, que loucura!
Aquela sensação era tão louca, era um misto de prazer, luxuria poder, excitação e diversos sentimentos. Aquele momento parecia nunca ter fim, transamos brutalmente em um túmulo semiaberto; trocávamos mordidas sanguinárias e repletas de amor, carícias ardentes e um pouco de ódio também pela vida. Era irônico, dividíamos essa dor até mesmo no sexo.
Nosso romance durou cerca de dez anos, os melhores anos de minha vida eu diria, afinal, foi ao lado de Any que senti o poder do ódio e do amor juntos. Com o passar do tempo, passei a mudar as minhas concepções sobre a vida arrumei um bom trabalho, parei com o uso de drogas e bebidas. Foi a época que me casei com Any.
Meus pais que Deus os tenha, pois não guardo magoas faleceram em um trágico acidente de carro voltando de uma festa que houvera na casa da tia Meet, tudo por culpa de uma simples discussão de casal, perderam suas vidas. Mas essa já é uma fase que me dói comentar, então mudemos de assunto.
Any infelizmente não conseguiu se livrar de toda aquela influência maligna e continuou a usar drogas, e mesmo juntos passei várias noites solitário em casa, enquanto Any passava suas noites em cemitérios. Foi assim que contraiu um vírus ainda pouco conhecido, envolvendo-se com garotos de programa, mesmo com o tratamento antirretroviral, Any não resistiu à doença e faleceu aos 29 anos.
Vocês devem estar se perguntando de mim como fiquei, pois vou lhes responder.
Com a morte de Any não consegui continuar morando na casa que vivíamos, pois tudo me fazia lembrar dela, seu espírito parecia ainda estar ali, ao meu lado, dizendo que me amava.
Nesse mesmo período fui comunicado da morte de meu tio Dr. Lyon, como único herdeiro Vivo, tomei posse de todos os seus bens, e me mudei então para o velho castelo dele, e foi lá já passado dois anos da morte de Any, descobri que também havia sido contaminado pelo vírus, quando soube cai em uma profunda depressão, pois sabia que restava pouco tempo de vida.
Contudo, lutei ao máximo contra a dor e contra a doença, que já mostrava seus efeitos, estava pálido, magro e abatido, devido ao tratamento intensivo.
A sorte havia sido lançada, estava no fundo do poço, não tinha mais nada a perder.
Então voltei a usar drogas e a encontrar os velhos amigos que Any havia me apresentado, passei a fazer tudo novamente, meu estado físico só piorava decidi então parar com o tratamento. Minha aparência era mórbida e cadavérica.
Numa noite fria, nevava levemente, resolvi então fazer um passeio pela cidade escura habitada somente pelos marginais e mendigos. Essa é a realidade da grande Europa em suas noites assombrosas. E por uma fração de segundos senti meus órgãos paralisarem dentro de mim, nessa hora senti... meu tempo havia esgotado! E foi com um ataque fulminante, que faleci aos 32 anos, apesar de jovem vivi tantas desgraças quando vivo, que até hoje contesto a existência de Deus.
Será que de fato ele existe?
Será que ainda irei me encontrar com ele?
Não sei, mas hoje vim para contar a minha historia através da médium Rutie, que me recebeu em sua casa e aceitou publicar esta psicografia.
Hoje estou vivendo em uma pequena colônia de recuperação espiritual, pois meu corpo físico ainda sofre com todos os vícios e pecados que cometi.
Estou aqui em busca de evolução, para ter a oportunidade de retornar a terra e consertar os meus erros.
Já havia me esquecido do Padre Manut. seu fim? pobre coitado! Foi trágico!
Como disse eu havia saído do colégio, mas ele continuou a molestar e abusar sexualmente as crianças, até o dia em que foi pego de surpresa por um funcionário da faxina, que o denunciou. O pai do garoto que fora assediado pelo Padre Manut, ficou tão revoltado que o matou asfixiado e fugiu.
Meu conselheiro disse que o Padre está hoje em uma espécie de dimensão inferior e sofre arduamente por tudo que fez.
Essa é minha historia de vida, obrigado a todos!
Espero que reflitam sobre suas vidas e não cometam os mesmos erros que cometi.
Espero minha nova chance ansiosamente, e a única coisa que sei é que me reencontrarei com Any novamente, ela participa também de tratamentos espirituais; seu estado é mais delicado, mas sabemos que ela poderá voltar a terra também.
ADEUS E OBRIGADO!               



                                              POR MAVYN: 10/08/2008

2 comentários:

  1. É muito interessante o modo de como pensa. Mas infelizmente não podemos voutar atrás dos nossos erros. Pedimos que Deus nos de mais uma chance, se é que merecemos.......!!!

    Ass: Kelly F.T

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  2. Ola Marcelo, escrever é um ato puro da nossa mais sensivel personalidade. Nao vejo em voce o inicio da vida ou o fim da morte, apenas o estado sublime da permanencia...Parabens lindo.
    Adriano,

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